Salário Bruto ↔ Líquido (CLT) no Brasil: descontos, cálculo completo e como interpretar seu holerite
Saber a diferença entre salário bruto e salário líquido é essencial para planejar seu orçamento, negociar propostas e avaliar oportunidades de trabalho. No Brasil, a remuneração de quem trabalha sob regime CLT passa por descontos obrigatórios (como INSS progressivo e IRRF) e por descontos/benefícios que variam conforme a empresa (ex.: vale-transporte, plano de saúde, contribuições facultativas e pensão alimentícia). Este guia explica cada componente, traz um exemplo prático de cálculo e mostra KPIs úteis (valor por hora, por dia, 13º e férias), além de um atalho para a nossa Calculadora de Salário Líquido CLT, onde você pode simular seu caso em minutos.
1) Bruto x Líquido (diferença na prática)
O salário bruto é o valor contratado, antes dos descontos. É a base sobre a qual incidem contribuições como INSS e IRRF, além de descontos acordados com a empresa (ex.: vale-transporte e plano de saúde). Já o salário líquido é o que efetivamente “cai na conta”, depois de subtrair todos os abatimentos do holerite.
Entender essa diferença evita surpresas ao receber a primeira folha de pagamento e ajuda a estimar com mais precisão o quanto sobra para despesas, metas e investimentos. Mesmo quando dois cargos oferecem o mesmo bruto, o líquido pode variar por causa de benefícios, carga tributária efetiva e políticas internas da empresa.
2) Descontos obrigatórios: INSS, IRRF e FGTS
Os descontos obrigatórios são padronizados por lei e aparecem em qualquer holerite CLT:
- INSS progressivo: contribuição previdenciária calculada por faixas de salário. Cada faixa tem uma alíquota, e você paga a soma proporcional (semelhante ao IR). O modelo progressivo torna a contribuição mais justa conforme a renda aumenta.
- IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte): é calculado após deduzir INSS e outras deduções legais (ex.: dependentes e pensão alimentícia). O IRRF é uma antecipação do seu IR anual.
- FGTS (8%): pago pelo empregador em sua conta vinculada, não reduz o seu líquido. É parte do seu pacote de remuneração e pode ser usado em situações específicas (ex.: compra de imóvel, demissão sem justa causa, aposentadoria etc.).
3) Benefícios e descontos adicionais (VT, saúde, sindicato, pensão)
Além dos obrigatórios, existem descontos e benefícios que variam por empresa e por acordo coletivo. Eles afetam sensivelmente o valor líquido e precisam entrar na conta:
- Vale-Transporte (VT): o desconto do trabalhador é limitado por lei a 6% do salário-base. Algumas empresas subsidiam parte ou todo o transporte.
- Plano de saúde/odontológico: pode ter custo compartilhado. Em muitos casos, funciona como desconto fixo no contracheque. Avalie coberturas e rede para comparar propostas.
- Contribuição sindical/assistencial: pode ocorrer conforme convenções e acordos. Entenda a frequência e o valor.
- Pensão alimentícia: se aplicável, pode ser informada em R$ ou em % do bruto no cálculo. Em geral, entra antes do IR, reduzindo a base de incidência.
- Outros descontos e benefícios: academia, estacionamento, vale-cultura, coparticipações etc. Pequenos valores somados fazem diferença no líquido final.
4) Exemplo prático de cálculo (passo a passo)
Vamos a um exemplo didático para entender a dinâmica do holerite. Os números a seguir são ilustrativos para fins educativos; na prática, as alíquotas efetivas e os valores exatos podem variar conforme a legislação, a faixa salarial e as convenções/benefícios da empresa. Para simular seu caso com precisão, use a Calculadora de Salário Líquido CLT.
4.1 Cenário de referência
- Salário bruto: R$ 5.000,00
- Dependentes (IR): 1
- Vale-Transporte: 6%
- Plano de saúde: R$ 250,00
- Contribuição assistencial: R$ 25,00
- Pensão alimentícia: não aplicável
- Bônus no mês: R$ 0,00
Item | Cálculo (ilustrativo) | Valor (R$) | Observação |
---|---|---|---|
INSS | Progressivo por faixas | ≈ 570,00 | Aplica-se por partes do salário em cada faixa |
Base IRRF | Bruto − INSS − deduções | ≈ 4.430,00 | Deduz INSS e dependente |
IRRF | Faixas do IR sobre a base | ≈ 335,00 | Varia conforme a faixa e deduções |
VT | 6% do salário-base | 300,00 | Limitado a 6% por lei |
Saúde | Valor fixo | 250,00 | Coparticipação pode variar |
Assistencial | Valor fixo | 25,00 | Conforme acordo/convenção |
Descontos totais | ≈ 1.480,00 | INSS + IRRF + VT + saúde + assistencial | |
Salário líquido | Bruto − descontos | ≈ 3.520,00 | Valor que “entra na conta” |
No exemplo, o trabalhador com R$ 5.000,00 de bruto teria um líquido aproximado de R$ 3.520,00. A melhor forma de chegar ao seu número é simular com seus próprios parâmetros: dependentes, pensão (em R$ ou %), vale-transporte, plano de saúde, contribuição sindical, bônus e outros descontos.
4.2 Variações comuns (o que muda o seu líquido)
- Dependentes: cada dependente reduz a base do IRRF; famílias com filhos ou dependentes têm, em geral, IR efetivo menor.
- Pensão alimentícia: informada corretamente, diminui a base de IR e altera o líquido.
- Vale-Transporte subsidiado: se a empresa cobre parte do custo, o desconto pode ficar abaixo dos 6% usuais.
- Plano de saúde premium: melhora a cobertura, mas aumenta o desconto fixo mensal.
- Bônus e comissões: elevam a base de cálculo do mês e podem mudar o IRRF temporariamente.
5) KPIs úteis: hora, dia, 13º e férias
Para comparar propostas em diferentes cidades ou regimes, use indicadores que colocam o salário na mesma base:
- R$/hora: costuma considerar 220h/mês em regime CLT. Útil para comparar com freelas ou PJ.
- R$/dia: aproximação com ~22 dias úteis por mês. Facilita comparar custo de vida e deslocamentos.
- 13º salário (≈ 1× bruto): pago geralmente em duas parcelas; entra no planejamento anual.
- Férias + 1/3: corresponde a ~1,33× o salário bruto. É um reforço de renda em períodos específicos, mas com incidência de encargos conforme legislação.
6) Dicas para negociar melhor e planejar o orçamento
- Compare o CET do emprego: não só o bruto, mas o custo efetivo do pacote (saúde, VT, bônus, PLR, política de reajuste, home office, benefícios flexíveis).
- Peça o holerite modelo: auxilia a checar como os descontos aparecem e a simular com precisão.
- Estime cenários: simule com e sem dependentes, com pensão em R$ e em %, com VT variando de 0% a 6% — isso dá noção do intervalo provável do líquido.
- Projete metas anuais: some 13º e férias na previsão de fluxo; evite contar com bônus incertos para despesas fixas.
- Reserva de emergência: 3–6 meses das despesas mensais, preferencialmente em aplicações de baixo risco e alta liquidez.
- Acompanhe mudanças na lei: atualizações de faixas do INSS/IRRF podem alterar seu líquido ao longo do ano.
7) Simule agora seu salário líquido
Com as bases certas, entender seu salário líquido fica simples. Teste diferentes valores de salário bruto, informe dependentes, adicione pensão (em R$ ou %) e ajuste descontos como VT, plano de saúde e contribuições. Em poucos cliques, você visualiza descontos totais, líquido, alíquota efetiva de IR, FGTS (8%) e estimativas de 13º e férias.
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💡 Dica FlowZenHub: use o KPI de R$/hora para comparar propostas de carga horária diferente. Às vezes, um bruto um pouco menor com jornada reduzida e bom pacote de benefícios pode gerar mais qualidade de vida e um líquido/hora mais interessante.